Artigo Revista Pediatrics
A paralisia cerebral (PC) é a deficiência motora mais comum da infância. Ela afeta uma em cada 345 crianças nos EUA e a sua incidência chega a 15% em prematuros extremos. Os dados brasileiros mostram prevalências similares às internacionais, com aproximadamente 6.000 novos casos de PC por ano no país. De fato, nos últimos 15 anos a literatura científica mundial tem consistentemente demonstrado interesse no tratamento da PC com o uso de células-tronco do sangue do cordão umbilical, relatando a sua segurança e eficácia.

O que há de novo?
A primeira meta-análise internacional de dados individuais de mais de 400 crianças participantes em 11 ensaios clínicos, publicada na revista Pediatrics, confirma que a terapia com células-tronco do sangue do cordão umbilical melhora significativamente as habilidades motoras brutas de crianças com PC.

Como as células do sangue do cordão agem no contexto da paralisia cerebral?
As citocinas secretadas por essas células exercem efeitos anti-inflamatórios que diminuem a morte celular secundária a lesões e regulam a ativação de células imunes. Isto estimula o reparo endógeno do tecido cerebral em um mecanismo também conhecido como sinalização parácrina.
Com isso, melhoram a conectividade neural e potencializam a neuroplasticidade, ajudando a criança a responder melhor à fisioterapia ou a outras reabilitações.

Detalhes dos tratamentos analisados:

Dados de 447 crianças, com 498 tratamentos.

84% dos tratamentos usaram sangue de doadores (alogênico).

90% das crianças tinham PC espástica.

Infusões foram endovenosas na maioria dos estudos.

Dose média: 56,1 milhões de TNC/kg *.
Quais são os resultados?

O tratamento com sangue do cordão, aliado à reabilitação, gera uma melhora superior à reabilitação isolada.

Melhora atinge o pico entre 6 e 12 meses após a infusão.

Há uma tendência dose-resposta: doses maiores = melhores resultados.

Quanto mais jovens as populações, maior o benefício, particularmente no caso de crianças com menos de 5 anos e com alguma capacidade de andar (com ou sem auxílio).

O sangue do cordão não precisa ser compatível com o receptor e a compatibilidade não tem influência na eficácia do tratamento.
Principais números:

6 meses: melhora média de 1,36 ponto no GMFM-66 (p = 0,005) **.

12 meses: melhora de 1,42 ponto no GMFM-66 (p = 0,012).

Melhor resposta com dose > 50 milhões de células nucleadas/kg.

Crianças com PC leve a moderada (níveis 1 a 3 do GMFCS) respondem melhor ***.

O que isso significa para as famílias:

O aumento de 1,42 ponto na escala de mobilidade e independência das crianças que receberam o sangue de cordão em relação aos controles indica melhora na performance global da função motora grossa, isto é: sentar-se sem apoio, passar de deitado para sentado, ficar de pé sem apoio, andar, saltar, subir degraus.

A chance de melhora é maior em crianças mais novas e com melhor funcionalidade inicial.

Oportunidade de maior conscientização da possibilidade de tratamento, pois a PC pode ser diagnosticada a partir de 6 meses de idade, permitindo a atuação imediata das famílias e o tratamento mais precoce.
Tratamento precoce permite:

Aproveitar o período de neuroplasticidade.

Aplicar doses proporcionais ao peso da criança.

Possibilidade de múltiplas infusões.


Conclusão
O sangue do cordão umbilical tem se mostrado uma terapia eficaz, segura e promissora para a paralisia cerebral. Os estudos já realizados indicam resultados positivos e as pesquisas seguem em andamento para possibilitar seu uso como uma terapia clínica consagrada.
Por isso, a coleta das células-tronco no nascimento é uma escolha estratégica: ela garante acesso a uma fonte biológica única, com potencial terapêutico para diversas condições neurológicas.
* TNC/kg: número total de células nucleadas por quilo de peso corporal. CordVida Médicos
** GMFM-66: Gross Motor Function Measure – 66 itens (Medida da Função Motora
Grossa, versão de 66 itens).
*** GMFCS: Gross Motor Function Classification System (Sistema de Classificação
da Função Motora Grossa). Escala de classificação de I a V que define o nível de
independência e mobilidade de crianças com PC.
Referências Bibliográficas:
- Finch-Edmondson M, Paton M, Webb A, Ashrafi M, Blatch-Williams R, Cox CJ, … Novak I. Tratamento com Sangue do Cordão Umbilical para Crianças com Paralisia Cerebral: Meta-Análise de Dados Individuais de Participantes. Pediatria . 2025; 155(5):e2024068999.
- Finch-Edmondson M, em nome da equipe do estudo. Meta-análise do sangue do cordão umbilical para paralisia cerebral. Guia para os pais sobre o boletim informativo da Fundação do Sangue do Cordão Umbilical , publicado em 2023-11
- https://publications.aap.org/pediatrics/article/155/5/e2024068999/201565/Cord-Blood-Treatment-for-Children-With-Cerebral?autologincheck=redirected
https://parentsguidecordblood.org/en/news/cord-blood-proven-effective-cerebral-palsy
Centers for Disease Control and Prevention (CDC), página de Cerebral Palsy (CP) - SANTOS, R.S., et al. Paralisia cerebral no Brasil: panorama epidemiológico. J Pediatr (Rio J). 2009;85(4):261–264